Review: Rakuen

RPG Maker e engines similares tem um pouco de uma fama ruim por resultarem em jogos genéricos, com visuais e texturas padrões que não criam uma estética coesa (a “cara de jogo RPGMaker”), mas vários desenvolvedores tem feito o seu melhor para retirar essa má fama, criando experiências memoráveis mesmo dentro da limitação da engine. Um desses é Rakuen, jogo recém lançado por Laura Shigihara, cujo histórico inclui fazer a música para outro criticamente aclamado jogo de RPG Maker, To the Moon.

É uma associação que chama a atenção positivamente logo de cara, porém Rakuen tem muita capacidade de se manter firme por si só como uma experiência única, não saindo atrás em qualidade.

A história do jogo se passa em um hospital, no qual o protagonista, um garoto hospitalizado, descobre que o seu livro favorito, Rakuen, não é uma mera história de fantasia – é um mundo real que ele ganha a capacidade de visitar – e com isso ajudar os outros pacientes do hospital com seus problemas.

Em questão de gameplay, ele é simples, embora mais interativo que outras aventuras narrativas similares: existem vários puzzles a se resolver, itens pra coletar, obstáculos a prosseguir. Em nenhum momento chega a ser o foco, mas são momentos bem feitos que dão variedade ao jogo e, de certa forma, ajudam a imersão naquele mundo.

O lado audiovisual do jogo, mesmo dentro dos limites que a engine possui, é chamativo e com uma bela variedade de cenários, cada um conseguindo ser bem atmosférico a sua maneira. É um jogo com um tom agridoce, tratando de assuntos sérios de maneira leve e positiva, sem deixar de comentar sobre os temas com respeito, e o visual transmite isso com capacidade, do mundo de fantasia colorido até as areas bloqueadas do hospital e seu ar meio ameaçador.

A trilha sonora, por sua vez, é – não surpreendentemente- excelente, com várias músicas que – de novo – se adequam perfeitamente as diversas sensações que os locais e momentos da história querem.

O desenvolvimento da história é, como já mencionado, bem feito, e Rakuen cria um universo interessante para os eventos ocorrerem, com personagens carismáticos e com personalidade própria. As interações e diálogos são consistentemente agradáveis e sabem mudar entre o tom sério e leve. As várias criaturas do mundo de fantasia e suas características únicas, os pacientes do hospital e seus problemas, os funcionários e voluntários… é um mundo próprio, com alma, com vida.

O ritmo é conduzido com habilidade, e existem vários momentos interessantes – as mudanças entre o mundo real e o de fantasia, os momentos sérios do enredo… é um jogo que sabe mesclar bem seus diversos aspectos sem realmente pesar para um lado.

Se tratando dos personagens, um outro diferencial interessante do jogo é que o protagonista é, em diversos momentos, acompanhado pela sua mãe nas aventuras (existe um comando dedicado a você falar com ela e ver o que ela tem a dizer – são várias opções de diálogo!). É um fator raro em videogames ver uma figura materna tendo tanta importância na história, e Rakuen vende bem a relação de mãe e filho que representa.

O lado positivo e leve do jogo existe e é forte, mas há de ser dito: é um jogo com momentos tristes. Momentos tristes que não existem simplesmente para serem tristes, mas que retratam situações difíceis e que causam bastante impacto emocional. É uma obra que sabe lidar com o que está contando, e cria cenas memoráveis, que – ao menos foi assim pra mim – causarão um impacto em quem experienciá-las. É um jogo com momentos tristes, mas que, graças a seus personagens cativantes, personagens que estão fazendo o seu melhor na vida, um protagonista dedicado a ajudar os outros, tem uma visão de mundo positiva, e é um jogo que não retrata essas situações de maneira deprimente. E talvez seja essa a melhor forma de contar essa história.

É uma experiência marcante, e um jogo que merece ser jogado – com uma premissa criativa, personagens cativantes, e momentos emocionais bem trabalhados, é mais um exemplo positivo dessas aventuras narrativas de RPG Maker.

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